domingo, 18 de novembro de 2007

Separação/ Divórcio


"É mais fácil ao psiquismo humano inventar foguetões com destino à lua do que aceitar uma separação" (Berger, 2003).
Quando um casal se une e partilha sonhos, sentimentos e ambições, essa união é, maioritariamente, encarada por ambos como algo que irá aprofundar a relação estabelecida até ao momento, havendo um sentimento dominante de felicidade e expectativa em relação ao futuro e aos frutos a que o mesmo dará origem. Partilhar os sentimentos com alguém, amar, acarinhar, rir mas também chorar, ouvir, sentir, conversar mas também discutir... tudo isso faz parte das relações entre humanos, constituindo processos de crescimento, de conhecimento inter e intrapessoal que apenas servirão para fortalecer laços. Mas e quando as coisas não correm bem? O que fazer quando entre um casal surgem conflitos com bastante frequência, ou quando o diálogo é complicado ou até impossível, quando pequenos "nadas" dão origem a discussões violentas ou quando a felicidade inicial deu lugar à angústia, à tristeza, à desilusão e ao desapontamento? E quando existem filhos?
No presente texto irei abordar este assunto cada vez mais frequente na sociedade e que tanta gente vivencia, muitas vezes no silêncio e na esperança eterna de que um dia as "coisas" irão melhorar, prolongando, por vezes, uma situação inevitável e indutora de sofrimento.

A separação/ divórcio constitui um importante momento de crise na vida de qualquer pessoa, ocorrendo uma reacção de luto (sentimentos de depressão, tristeza intensa, dúvidas, instabilidade de humor, entre outros) pelo fim da relação, por pior que esta estivesse. É frequente, que mesmo no período que antecede a separação, o indivíduo se sinta repleto de dúvidas, com alguma dificuldade em pesar os prós e contras da situação, por todo o descontentamento inerente, havendo, por exemplo, o medo e a incerteza perante o futuro sem o cônjuge, ou mesmo, por parte de quem toma a iniciativa de se separar, o desenvolvimento de um sentimento de culpa, principalmente aquando da presença de filhos e/ou se o parceiro se demonstra bastante fragilizado com a perspectiva de separação.
Independentemente da duração da separação, só ao fim de um determinado período de tempo é que o ex-parceiro poderá, eventualmente, ser encarado de forma neutra, ou seja, poderá ocorrer uma dissipação dos sentimentos de raiva, descontentamento, por exemplo. No entanto, este processo poderá ser mais ou menos prolongado e doloroso, sendo que, o recurso a técnicos especializados não é tão pouco frequente quanto se julga, pois é normal que, em dadas circunstâncias, uma pessoa conclua que, por si própria, não está a conseguir "sair" da situação, não porque seja melhor ou pior que outrém, apenas o factor emocional inerente poderá dificultar este processo.

O estado das crianças na sequência do divórcio é algo que preocupa pais, educadores e profissionais que trabalham no sentido de minorar os efeitos dessa situação, sendo que a repercussão da separação ou divórcio parental nos filhos dependerá em larga escala do desenvolvimento e idade dos mesmos. Muitas crianças sofrem a nível psíquico devido às circunstâncias vivenciadas no período pré-separação (discussões, violência verbal e/ou física, humilhações, chantagem, entre outros), circunstâncias essas que poderão, em maior ou menor escala, marcá-las, impedindo-as de vivenciar a tranquilidade subsequente ao processo de separação. Assim, muitas crianças apresentam uma grande dificuldade em expressarem os seus sentimentos acerca do que está a acontecer, mantendo-se aparentemente estáveis, o que levará os adultos a subestimarem a situação. No entanto, tal não significa que não existam crianças que superam relativamente bem o processo de divórcio dos pais, sem apresentarem sintomas de maior. Paralelamente, os sintomas mais frequentes no seio desta temática são:
- Em crianças mais novas (entre os 3/5 anos) - fazer "xixi" na cama, querer dormir com a mãe/pai, alterações do sono, por exemplo
- Em crianças entre os 5-8 anos sensivelmente - marcada tristeza, repercussões em termos do rendimento académico, agressividade, entre outros.
- Em crianças um pouco mais velhinhas, entre os 8-12 anos - movimento de culpabilização e raiva para com ambos ou apenas um dos progenitores por ter causado a separação, ansiedade, isolamento social, desinteresse, por exemplo
- Em adolescentes - poderá ser comum o surgimento de comportamentos rebeldes e desorganizados, depressão, por exemplo

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Dificuldades de Aprendizagem


O termo "dificuldades de aprendizagem" (D.A), segundo o National Joint Committee on Learning Disabilities, pode ser definido como um grupo heterogéneo de desordens de diversas índoles, manifestadas por problemas significativos em termos da aquisição e uso das capacidades de fala, escuta, leitura, raciocínio e matemática. A origem desta problemática pode residir em factores emocionais e/ou neurológicos, que comprometem significativamente o processo de aprendizagem da criança.
Estas dificuldades de aprendizagem subdividem-se em diversas áreas específicas, nomeadamente: visuo-espacial (dificuldades na percepção da cor, na leitura de "b/d" e "p/q", realizando reversões, por exemplo), auditivo-linguística (dificuldades na compreensão de instruções, sem comprometimento a nível físico, nomeadamente surdez, que pode ir de um grau ligeiro a um grau severo), organizacional (dificuldades em cumprir tarefas com sequência, ou seja, a criança/jovem tem dificuldade em realizar uma tarefa com princípio, meio e fim), motora (problemas na coordenação global ou fina, por exemplo, a nível da escrita), académica (é a mais comum; a criança/jovem pode apresentar dificuldades na área da matemática e/ou da leitura/escrita) e socioemocional (dificuldade no cumprimentos de normas sociais, por exemplo).
No entanto, para que uma criança ou jovem seja referenciada com tendo dificuldades de aprendizagem, é necessária uma observação atenta, por parte dos educadores e professores, durante um período razoável de tempo, em diferentes contextos e situações, e em diferentes idades, permitindo, deste modo, averiguar quais são as reais dificuldades da criança e que tipo de intervenção poderá ser feita para ajudá-la a ultrapassar essa situação.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Violência Escolar


A violência escolar ("bullying") é uma fenómeno cada vez mais frequente e visível, trazendo uma multiplicidade de consequências nas vítimas, nomeadamente em termos da sua auto-estima e até da sua saúde física e psicológica.
Assim, a violência escolar pode ser traduzida em comportamentos anti-sociais, delinquência, vandalismo e comportamentos de oposição, sendo definida como actos de violência física e psicológica, intencionais, repetidos e sistemáticos, ou seja, diferem dos episódios pontuais de conflito entre pares de igual estatuto ou poder, sendo praticados por um ou mais indivíduos que escolhem vítimas mais fracas ou mais novas, cuja capacidade de defesa seja diminuta em relação aos agressores.
O "bullying" envolve uma multiplicidade de comportamentos, tais como:
- actos de agressividade física
- agressões verbais
- comportamentos de manipulação social ou indirectos
- maus-tratos psicológicos
- ataques à propriedade
A agressão indirecta é caracterizada por forçar a vítima ao isolamento social, sendo mais comum em raparigas e em crianças pequenas, envolvendo, por exemplo, críticas ao modo de vestir da vítima, espalhar boatos e recusa em se socializar com a mesma.

Mas será que todas as vítimas são passivas, ou seja, deixam-se submeter por estes agressores?

Existem dois tipos de vítimas: as que são efectivamente passivas, ou seja, inseguras, ansiosas e incapazes de se defenderem e as agressivas, de temperamento exaltado e que retaliam o ataque, ou seja, são agredidas e agridem também.

Quais são os principais efeitos do "bullying", sinais de alarme e como é que as vítimas podem ser ajudadas?

O bullying persistente pode ter uma multiplicidade de efeitos sobre a vítima, constituindo indubitáveis sinais de alarme, e que transmitem que algo se passa com a criança/jovem e que a mesma necessita de ajuda profissional.

- Efeitos sobre o indivíduo poderão incluir:
> Problemas gástricos
> Dores não-especificadas
> Medo de expressar emoções
> Problemas relacionais
> Abuso de drogas e álcool
> Auto-mutilação
> Baixa auto-estima
> Isolamento social
> Depressão
> Recusa escolar
> Diminuição do rendimento académico

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Depressão Infantil

"Nasci de um azar entre o meu pai e a minha mãe" (Tiago, 14 anos)

"Não presto para nada... em minha casa só sirvo para arranjar problemas a toda a gente" (Francisca, 9 anos)
(cit. in. Strecht, 2003)


A depressão na criança difere em larga escala da depressão no adulto, sendo muitas vezes difícil o seu reconhecimento. Por um lado, não se deve banalizar a palavra "depressão", dado que uma criança triste não significa necessariamente uma criança deprimida. A tristeza pode acontecer pontualmente na vida de uma criança, tal como acontece na nossa vida. Todos nós já tivemos momentos em que nos sentimos mais tristes, mais reservados e até chorosos, porque algo não nos correu bem ou por outro motivo. Ora, as crianças também podem estar tristes pelos seus próprios motivos, seja porque um coleguinha da escola não a deixou brincar um dia com o grupo ou não lhe emprestou aquele brinquedo que tanto a agradava ou até porque não se portou tão bem e o pai ou a mãe a repreendeu. Mas isto serão acontecimentos pontuais...
No entanto, devemos ficar sempre atentos ao comportamento da criança. Se, por exemplo, esta tristeza se prolonga no tempo e começa a afectar significativamente seu o bem-estar, o seu aproveitamento escolar, o convívio com outras crianças, então constituirá, sem dúvida, um sinal de alarme, que poderá ou não indiciar a presença de uma depressão, mas sem dúvida que transmite que algo não está bem com a criança, existe algo que a angustia e entristece e é esse algo que necessita de ser resolvido o mais precocemente possível, daí a necessidade de recorrer a um técnico especializado.

Mas como se poderão então reconhecer os sinais de alarme?

A criança depressiva é, muitas vezes, descrita como alternando entre movimentos de retirada, inércia, ausência, submissão e indiferença ou, pelo contrário, extrema agitação, instabilidade, cólera e comportamentos de oposição marcados. Por vezes, assiste-se à ocultação de sentimentos de desvalorização e culpabilidade.
Caso se trate de uma criança mais nova, é comum encontrarmos sintomas psicossomáticos, ou seja, sintomas corporais que surgem sem que haja uma verdadeira causa/ doença física (por exemplo, eczemas, vómitos, tonturas, dores sem explicação). No entanto, é possível que a depressividade na criança se associe, igualmente, a uma doença física: por exemplo, uma criança com uma doença crónica e cujas hospitalizações sejam frequentes, poderá estar simultaneamente deprimida e doente. Por vezes, assistem-se também a comportamentos regressivos, ou seja, a criança volta a adoptar comportamentos de quando era mais pequenina, como por exemplo, voltar a fazer chichi na cama (enurese), usar chucha, biberão e ter brincadeiras de crianças mais novas.
Nas crianças mais velhas, é frequente assistirmos a dificuldades de concentração, sentimentos de inferioridade, diminuição do rendimento escolar, falta de confiança em si mesmas, perda de interesse nas suas actividades favoritas, isolamento social (a criança praticamente não brinca e isola-se do seu grupinho), instabilidade, agressividade e atitudes provocatórias.
Os problemas de sono (insónias, pesadelos) e de alimentação (perda de apetite ou apetite exagerado) também poderão estar presentes.

Então e o que provoca a depressão na criança?

Muitas vezes, a depressão infantil é causada por uma perda, seja ela real (por exemplo, a morte do pai e/ou da mãe ou de alguém igualmente próximo) ou simbólica (por exemplo, a "ausência" emocional dos pais para com a criança, ou seja, estão fisicamente presentes, mas não demonstram disponibilidade para ela.
Por vezes, algumas alterações no ritmo de vida da criança e que, inevitavelmente, apelam às suas capacidades de adaptação (por exemplo, entrada para a escola, separação parental, nascimento de um irmão), poderão ser ultrapassadas com maior ou menor dificuldade, podendo dar lugar a reacções depressivas em algumas crianças.

sábado, 6 de outubro de 2007

Afinal, o que é um Psicólogo?


Esta é uma questão que surge frequentemente...
Muitas vezes, deparo-me com ideias erróneas de que os psicólogos são videntes, que lêem os pensamentos e mesmo sem as pessoas falarem, conseguem penetrar nas suas mentes e descodificá-las... Os psicólogos também não são "médicos de malucos", como por vezes se diz na gíria... quantas vezes todos nós já ouvimos a célebre frase:"EU?! Ir a um psicólogo?! Nem pensar.. eu não estou maluco/a".
Ora então... o que são afinal os psicólogos?!
Sem querer ser demasiado exaustiva, considero que talvez, a título de curiosidade, possa ser interessante definir o que é a Psicologia. Ora, das diversas definições desta área do saber, é comum considerar-se que a Psicologia consiste no estudo do comportamento e dos processos mentais inerentes ao mesmo, ou seja, alia o estudo do comportamento humano aos processos psicológicos associados ao bem-estar físico e psíquico do indivíduo.
Assim, um psicólogo é alguém que estuda a ciência do comportamento humano, procurando aplicá-la em diferentes contextos, nomeadamente, em termos da Prevenção (prevenir o desenvolvimento de problemas, actuando, por exemplo, em termos de comportamentos de risco), Promoção (promover a aquisição de competências específicas junto dos indivíduos, de forma a que estes consigam lidar melhor com as dificuldades e atinjam estabilidade e bem-estar, por exemplo, em termos da orientação vocacional dos jovens e adultos permitindo assim oferecer-lhes um leque de possibilidades para que se sintam mais orientados a nível profissional) e Remediação (ocorre quando o problema já se instalou, sendo que, neste caso, o psicólogo, principalmente o Psicólogo Clínico, procura que o indivíduo identifique o(s) seu(s) problema(s), ajudando-o a encontrar a melhor forma de lidar com o mesmo, por exemplo, problemas relacionais, luto e perda, problemas de aprendizagem, entre outros)

Boas-vindas!




Olá!
Antes demais gostaria de lhe dar as boas-vindas ao meu espaço inteiramente ligado à Psicologia.
O meu nome é Ana Sousa e sou Psicóloga Clínica e do Aconselhamento, sendo a minha área de preferência a Psicologia da Infância e Adolescência, nomeadamente em termos de avaliação psicológica e ludoterapia.
Ao longo do tempo, irei colocando neste espaço, tópicos que considero relevantes para discussão e troca de ideias, questão sempre tão fundamental e importante para o nosso enriquecimento enquanto profissionais, mas essencialmente enquanto pessoas.
Convido-os então a visitar o Blogue!